Com 6,3 milhões de hectares de seu território localizados dentro do bioma, Mato Grosso do Sul abriga a maior área contínua preservada de Mata Atlântica no interior do Brasil. São mais de 1 milhão de hectares que compõem um mosaico de unidades de conservação no entorno do rio Paraná, com destaques para o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema (PAVRI) e da Área de Proteção Ambiental das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, além de reservas particulares e parques municipais.
O Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema cobre área de 73.345,15 hectares localizados na Bacia do Rio Paraná, abrangendo os municípios de Jateí, Naviraí e Taquarussu. Foi criado em 1998 como a primeira Unidade de Conservação do Estado, fruto de medida compensatória pela formação do lago da Usina Hidrelétrica Sérgio Motta. Hoje, o Parque tem estrutura para receber pesquisadores de várias áreas e está sendo adequado para receber visitação pública, sendo administrado pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).
Caracterizada pela vegetação alta, densa e diversificada, a Mata Atlântica cobria todo o litoral brasileiro desde o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Por estar na costa, foi o bioma mais devastado na medida em que a colonização avançou. Restam pouco mais de 12% da mata nativa preservada e por isso, foi reconhecida pela Unesco como reserva da biosfera, a maior em área florestada do planeta, com cerca de 78 milhões de hectares, sendo 62 milhões em áreas terrestres e 16 milhões em áreas marinhas, nos 17 estados brasileiros onde ocorre, o que inclui Mato Grosso do Sul.
Outra porção importante da Mata Atlântica protege uma região especial do Estado: a Serra da Bodoquena. Ali, destaca-se o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, com 76,4 mil hectares, porém boa parte dos atrativos naturais de Bonito, Jardim e Bodoquena estão cercados pela Mata Atlântica, como é o caso da Gruta do Lago Azul, lembra o gerente de Unidades de Conservação do Imasul, Leonardo Tostes Palma. “A vegetação de Bonito é bastante característica do cerradão, mas temos áreas significativas de Mata Atlântica naquela região”.
No dia 27 de maio é comemorado o Dia da Mata Atlântica, instituído por decreto presidencial de setembro de 1999. A data tem origem nos primórdios da colonização europeia, refere-se à carta escrita pelo Padre Anchieta no dia 27 de maio de 1.560, endereçada aos seus superiores, em que descreve em detalhes a exuberância da natureza que cercava a Vila de São Vicente, a primeira possessão portuguesa no Novo Mundo.
Após descrever em minúcias as muitas espécies de mamíferos, insetos e répteis na longa carta transformada em livro de 50 páginas intitulado Carta de São Vicente 1560 e publicado em 1997 pelo Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, o padre passa a narrar um pouco da diversidade de aves que habitavam a região nessa época.
“Em verdade, não é fácil dizer quanta diversidade ha de aves ornadas de várias côres. Os papagaios são mais comuns aqui do que os corvos, e de diferentes especies, todos bons para se comerem; alguns deles produzem prisão de ventre; outros imitam a voz humana; outros há que, comendo o milho quando está granado, voam em bandos e quando estão nesse trabalho, fazem de maneira que, quando descem para comer, fiquem sempre um ou dois no alto de uma árvore, como de vigia, os quais, espiando o lugar por todos os lados, em vendo alguém aproximar-se, tocam rebate e fogem todos; mas se não houver perigo algum, quando os outros fartos sobem, descem os vigias por sua vez para comer”.