Mesmo a chuva do último fim de semana que aliviou um pouco o calor e o tempo seco do Pantanal não foi suficiente para frear o avanço do fogo. Com mais 82 focos nesta quarta-feira (23), setembro bateu a marca de mês com maior número de focos de incêndio do bioma, atingindo 6.048 uma semana antes de chegarmos a outubro. Anteriormente o mês com mais incêndios era agosto de 2005, com 5.993. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que iniciou o monitoramento da região em 1998.
2020 também já é o ano com maior número de incêndios no bioma. São 16.201, ante 12.536 registrados em 2005. Se compararmos com o ano passado, quando houve 10.025, o fogo já aumentou 62%. A área queimada também soma grandes proporções, são 3,1 milhões de hectares em todo o bioma segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ), sendo 1,9 milhão em Mato Grosso e 1,2 milhão em Mato Grosso do Sul, equivalente a 22% de todo o território.
Em 2019, as queimadas do Pantanal já foram catastróficas, cerca de 300% maior que 2018. “Eu tive 60% da minha propriedade atingida pelo fogo. Perdi cercas, portões, fiações da rede elétrica, pontes, pastagens, além das áreas florestadas e bichos que não conseguiram fugir como lagartos, jacarés, tamanduás entre outros. Essa situação nos obrigou a mudar o lugar dos pastos, tivemos que realocar turistas e ficamos sem receber novos até o fim do ano porque o ambiente estava muito deteriorado”, conta o empresário Roberto Klabin, proprietário da Estância Caiman, localizada no município de Miranda (MS).
Ele possui a propriedade desde 1983 e nunca tinha passado por algo parecido. “Quando o fogo chegou por aqui a primeira coisa que fizemos foi pedir ajuda aos vizinhos e acionar o PrevFogo (Ibama) e o Corpo de Bombeiros. Foram cerca de 15 dias de combate intenso e mais 15 dias apagando os focos que sobraram que poderiam reacender as chamas. Chegamos a ter 100 pessoas fazendo o combate dentro da fazenda, com gente de fora do Estado e aviões com água”, lembra.
Toda essa situação fez com que fosse montada uma estrutura de prevenção para incêndios na estância para este ano. Formaram aceiros – faixas ao longo das cercas onde a vegetação foi completamente eliminada da superfície do solo para prevenir a passagem do fogo para área de vegetação –, estudos sobre o manejo do fogo na fazenda e treinamento de pessoal para o combate a incêndios.
“Nós já realizávamos esse treinamento, mas agora fazemos com mais intensidade, mais pessoas. Este ano tivemos sorte com a chuva, que caiu fora de época na Caiman (em agosto) e por isso está com menos risco de que o fogo nos atinja. Não estamos enfrentando aqui a mesma situação que a região Norte do Pantanal”, avalia Klabin.
Apesar do fogo não ter atingido algumas localidades do Pantanal a situação não segue animadora, já que as condições climáticas da região não estão ajudando. Além da expressiva redução das cheias dos rios pantaneiros, a temperatura nos próximos dias continua alta, batendo os 40 graus na próxima semana, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Fortes ventanias e a baixa umidade relativa do ar, que pode chegar a 10%, também contribuem para o avanço dos incêndios. Há previsão de pancadas de chuva para a região Sul do bioma no fim de setembro.
Boletim Radar do Fogo
Este é o segundo boletim sobre a situação do fogo no Pantanal produzido pela Wetlands International. Publicaremos informações atualizadas periodicamente sobre os números do fogo no Pantanal. Ele será enviado por e-mail e publicado em nossas redes sociais.
A Wetlands International Brasil desenvolve no Pantanal ações direcionadas para a conservação do ecossistema e incentiva o manejo sustentável pelas comunidades. Acompanhamos este momento com preocupação e cobramos rápidas e efetivas respostas de nossos governantes para a contenção do fogo.
Em conjunto com a Mupan-Mulheres em Ação no Pantanal, Centro de Pesquisas do Pantanal (CPP) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (Inau), a Wetlands International Brasil publicou um documento de posição onde, a partir de dados técnicos, as organizações mostram como está o cenário atual e apontam recomendações a serem seguidas para que não volte a acontecer uma nova tragédia.