Neste fim de semana, após ser divulgado vídeo de um policial militar agredindo uma mulher algemada em setembro, a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul afirmou que será instaurado um inquérito para apurar a atitude do militar.
O caso ocorreu no dia 26 de setembro, mas somente agora o vídeo foi divulgado, depois de chegar ao site MS Notícias.
Nas imagens, é possível ver o policial empurrando a mulher contra a parede. Ela tenta se defender com os pés, mas acaba apanhando com tapas, depois socos e chutes. Na cena, outro PM ainda parece segurar a mulher na cadeira para que o colega continue batendo. A sequência de agressões só é finalizada quando uma policial contém o homem, enquanto pessoas que estão no mesmo ambiente seguem paradas, apenas olhando.
De acordo com boletim de ocorrência registrado pelos policiais militares, ela se envolveu em confusão em uma restaurante quando tentava levar comida à sua filha de 3 anos, que tem autismo. Ainda de acordo com a PM, a mulher se alterou por conta de estar sob efeito de álcool e por isso "se justifica o uso de algemas". Em nota oficial, a corporação afirma que a mulher detida e espancada estaria causando confusão em um estabelecimento e até teria ameaçado os proprietários de morte, registrando a prisão por ameaça, dano, desacato e embriaguez. Porém, nada sobre as agressões do policial foi relatada no B.O.
A proprietária do restaurante onde tudo começou, Silvana Scharman, diz que a mulher chegou ao local por volta das 18h30, bastante alterada. "Mas avisei que só abrimos às 19h. Ela voltou depois e começou a tocar o terror. Disse: 'fiz esse pedido faz três horas'. Ai ela ameaçou, tacou garrafa em mim e no meu marido."
Segundo a empresária, a cliente estava hospedada em um hotel da cidade e agora pensa que a pressa poderia ser por conta da condição do filho. "Ela não falou que a criança era autista, mas de qualquer jeito eu não ia conseguir entregar a comida antes, porque trabalho com a la carte, alcatra na chapa para viagem", completa.
Quando a PM foi acionada, a cliente teria se exaltado ainda mais. Sobre o espancamento dentro do quartel, Silvana diz que não há justificativa. "Eu não vi o que aconteceu lá, só vi pelo vídeo, mas agressão nunca se justifica. Tudo isso prejudica a gente no fim das contas, porque trabalhamos com turismo e isso não é normal de acontecer".
Casada também com um PM, aos 44 anos, a vítima explica que viajou com os três filhos até Bonito para comemorar o aniversário. “Ganhei de presente do meu marido. Fiz aniversário no dia 18 de setembro e o passeio ocorreu no dia 24”, detalha.
Abordada pelos policiais militares, a empresária relata que o mesmo policial que foi filmado pelas câmeras do quartel, a agrediu também na pousada. "Esse tenente me obrigou a sair do quarto me levando pelos cabelos para fora do hotel. Tentei explicar o ocorrido e eles não quiseram me ouvir", explica.
Por ser a única responsável com as crianças, os filhos foram levados para um abrigo. “Não me ouviram, nem me deixaram ao menos ligar para alguém, nem para meu esposo. Fiquei sem notícias dos meus filhos. Nesse meio tempo o tenente quebrou meu telefone”.
Horas depois, durante a madrugada, o marido foi até o local para retirar a esposa e os filhos do abrigo. “Tudo aconteceu porque fui defender os direitos de minha filha que só queria comer, simples assim”.
Nesta segunda-feira (23), o governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), determinou o afastamento imediato do segundo tenente da Polícia Militar, André Luiz Leonel, identificado como o agressor da turista. Além de Leonel, toda a equipe que atuou na ocorrência foi afastada de suas funções, informa o governo de Mato Grosso do Sul.
Em nota oficial, Azambuja informou que ainda que tenha havido ocorrência de desacato e agressão aos policiais são inadmissíveis a violência extrema e a conduta empregada na ação policial. “Já estão sob rigorosa investigação”, concluiu o governador, em nota.
Confira a nota completa divulgada pela Polícia Militar na íntegra e o vídeo do incidente abaixo:
"A Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul informa que no tocante à ocorrência registrada na noite do dia 26 de setembro do corrente ano, no município de Bonito-MS, onde uma senhora de 44 anos foi detida por ser suspeita de cometer os crimes de desacato, danos ao patrimônio, ameaça, resistência à prisão e embriaguez, teve origem após uma equipe policial militar ser acionada para contê-la, em um restaurante daquele município, após a mesma, supostamente, ter ameaçado atear fogo no local, ameaçado de morte os proprietários e quebrado garrafas dentro do estabelecimento comercial.
Ocorre que durante a confecção do Boletim de Ocorrência, a pessoa detida teria se exaltado contra os PMs que atenderam a ocorrência, sendo necessário o uso de algemas e mantê-la dentro do compartimento para condução de detidos, considerando o avançado estado de embriaguez da mesma.
Quanto as imagens que aparecem no vídeo, foi feita uma análise preliminar do conteúdo, identificando o local e militares envolvidos. Imediatamente, o comandante do CPA-3, coronel Emerson de Almeida Vicente, determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM), que é o instrumento legal para investigar fatos dessa natureza" .