Investigado por sonegação fiscal, empresário do Paraná acabou preso em Mato Grosso do Sul por estar em sua fazenda do Pantanal no dia da deflagração da operação Expresso, que mira esquema bilionário no Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.
A prisão do empresário Silvio Aparecido Alves, 60 anos, do Grupo Dois Irmãos Café, é temporária, com validade de cinco dias, e exigiu uma ação às pressas em MS. A Polícia Civil de Ladário foi acionada por policiais do Paraná nas primeiras horas da terça-feira (16). Ele era um dos principais alvos.
“Começamos a fazer diligências para localização e descobrimos que possivelmente estaria na fazenda. Por volta das 8h30, usamos um drone para mapear o local. Foi bastante útil porque a área é bem extensa”, afirma o delegado Luca Venditto Basso.
A fazenda fica a 40 quilômetros da área urbana de Ladário, localizada a 419 km de Campo Grande. O imóvel rural, na região da Apa Baía Negra, é destinado à pecuária. O empresário foi preso perto do mangueiro.
Na delegacia da Polícia Civil de Ladário, ele foi ouvido pelo delegado por meio de carta precatória e encaminhado para o presídio de Corumbá. Silvio é investigado por crime de organização criminosa para sonegação fiscal, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro decorrente da simulação de compra e venda de café em grãos em operações interestaduais.
De acordo com a advogada Tainara Torres, a defesa pediu o relaxamento da prisão temporária à Justiça do Paraná. O Campo Grande News não conseguiu contato com o Grupo Dois Irmãos, que tem sede em Santo Antônio da Platina (Paraná) e unidades em Curitiba (Paraná), Itu (São Paulo), Assis (São Paulo) e Carlópolis (Paraná).
Esquema
De acordo com o MPPR (Ministério Público do Paraná), o café era oriundo de Minas Gerais e do Espírito Santo, comercializado por cooperativas e produtores rurais desses estados e, inicialmente, empresas de fachada, as chamadas “noteiras”, também localizadas em Minas Gerais e no Espírito Santo emitiam notas frias, simulando operações comerciais.
As sucessivas notas emitidas por empresas dos dois Estados possibilitavam o não recolhimento do ICMS, especialmente pelo mecanismo do diferimento. Paralelamente, outra empresa “noteira”, situada em São Paulo, emitia notas fiscais falsas destinadas a atacadistas e torrefações do Paraná.
Somados os valores, as “noteiras” de Minas Gerais e São Paulo emitiram mais de R$ 6 bilhões em notas fiscais, entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2021, sendo 2 bilhões só em 2020.
Quanto às empresas destinatárias das notas fiscais falsas no Paraná, a estimativa é que elas tenham acumulado créditos tributários fraudulentos de, aproximadamente, R$ 100 milhões, considerando que receberam cerca de R$ 1 bilhão em notas frias. Sobre o valor fraudado, ainda devem ser acrescentados 60% de multa, correção monetária e juros, elevando o valor devido aos cofres paranaenses a R$ 200 milhões.