O Banho de São João de Corumbá e Ladário (MS) foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão foi tomada na última quarta-feira (19) em reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Congregando o culto a São João Batista e ao orixá Xangô, a festividade reúne uma série de rituais, como procissões, cortejos, novenas e giras em terreiros de candomblé e umbanda, reunindo a população em fé, alegria e afeto.
Percorrendo as casas dos festeiros – realizadores de festas em homenagem ao santo –, o roteiro do Banho de São João inclui, ainda, a decoração de altares e andores, queima de fogueiras e realização de oferendas, além de rezas e terços, giras em terreiros e levantamento de mastros. Na passagem do dia 23 para 24 de junho, a população se dirige às margens do rio Paraguai para realizar, assistir e participar do ritual do banho: em Corumbá, o banho acontece no Porto Geral e, em Ladário, no Porto Ladário. É o ápice da celebração, a festa pública, para onde convergem as festas das casas e dos terreiros.
Durante a 95ª do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado composto por representantes de instituições públicas e privadas, bem como por representantes da sociedade civil, foi apresentado parecer do pedido de registro do Banho de São João. Por unanimidade, o conselho decidiu pelo reconhecimento do bem como Patrimônio Cultural do Brasil, sendo inscrito no Livro de Registro das Celebrações.
“O Banho de São João é importante celebração que compõem a identidade do estado do Mato Grosso do Sul. Pra nós, é uma felicidade imensa concluir o processo de registro de um bem tão significativo para a região do Pantanal e para o Brasil”, declarou a presidente do Iphan, Larissa Peixoto. “Com esse ato, coroamos um intenso processo de pesquisa sobre o bem, com produção de vídeos, documentário e dossiê. Assim, o Iphan já atua na salvaguarda para a reprodução e sustentabilidade do Banho de São João.”
Situados na região pantaneira do Mato Grosso do Sul, às margens do rio Paraguai, Corumbá e Ladário são municípios vizinhos, distantes cerca de 350 km da capital Campo Grande. Corumbá possui cerca de 112 mil habitantes; Ladário, 23 mil. Na fronteira com a Bolívia, a região tem um histórico no processo de formação do território brasileiro a partir da expansão colonial das coroas Portuguesa e Espanhola.
“É uma grande valorização do Banho de São João, do Arraial do Banho de São João. É um ganho imenso. Com o registro nacional, há mais visibilidade para uma festa que precisa ser conhecida”, avalia o festeiro Alfredo Ferraz, 32. “Esse Arraial é realizado somente aqui. O Brasil precisa conhecer, o mundo precisa conhecer. O registro é uma emoção porque, quando começamos a montar o processo, era só um sonho. Para os festeiros e devotos, hoje é uma grande vitória”, completa Alfredo, que herdou do pai e do avô a devoção a São João.
Devido à pandemia, desde 2020, o Banho de São João vem sendo realizado apenas em âmbito doméstico. Novenas, terços, alvoradas e levantamento de mastro são promovidos em cada residência, limitando-se o acesso à comunidade. O próprio banho na imagem do santo é feito dentro das próprias casas, em bacias ou tanques.
Processo de registro
Em 2010, com o reconhecimento da Celebração Banho de São João de Corumbá como bem cultural de natureza imaterial do estado do Mato Grosso do Sul, foi solicitado ao Iphan reconhecimento em esfera federal. Os estudos realizados a partir de 2014 apontaram a necessidade de se ampliar o recorte espacial, incluindo o município de Ladário, onde a tradição também é realizada.
Já em 2018, o Iphan firmou parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) para dar prosseguimento ao dossiê do Banho de São João. O trabalho contou com incursões a campo para acompanhar a preparação da festa, resultando em inúmeras entrevistas, sendo 25 delas gravadas, com festeiros, devotos e autoridades religiosas e político-administrativas.
O registro de bens culturais de natureza imaterial foi instituído pelo Decreto 3.551/2000. Com o reconhecimento, o Banho de São João passa a ser acautelado pelo Iphan, que atuará na salvaguarda da festa, coordenando a execução de políticas públicas para a reprodução e sustentabilidade da manifestação.